Menstruação e cura

Foto por Joana Petribu

 

Por muito tempo, e em várias crenças, a menstruação se tornou um tabu. Afinal, como interpretar a ocorrência de um sangramento, muitas vezes acompanhado de outras manifestações corporais, sem que isso significasse doença ou morte? Como se fosse dotado de artifícios sobrenaturais, o corpo feminino foi reprimido, julgado e condenado por sociedades que consideravam as suas particularidades – incluindo a capacidade de gerar outro ser – um poder grande demais para ser deixado em liberdade..

 

A ideia distorcida de que o sangue é algo impuro, junto com a condenação do prazer sexual, transformou o ato de menstruar, para as sociedades patriarcais, em uma doença, quase um distúrbio que pode e deve ser contido e controlado. E mais: tirou da mulher o direito (e até mesmo o hábito) de comporta-se de acordo com o ciclo que a natureza criou e, consequentemente, de gozar de seus plenos poderes.

 

Foi aprendendo a controlar e reprimir a sua instabilidade – inclusive quanto aos humores – que a mulher chegou ao século XX, atravessou o movimento feminista e passou a replicar o estilo de vida dos homens. Afastar-se da essência, no entanto, não tem se mostrado uma boa escolha. Homens e mulheres são polos que se opõem e se completam, dando origem à tensão que chamamos de “vida”.

 

Não assumir o seu papel na dinâmica do universo trouxe dor e doenças. “O sangramento mensal é uma expressão da feminilidade, da fecundidade e da receptividade. A mulher está inteiramente à mercê desse ritmo”, dizem Thonwald Dethlefsen e Rüdiger Dahlker, autores da obra “A Doença como Caminho”, de (Ed. Cultrix). A não reconciliação com a própria feminilidade, diz o texto, “é que serve de pano de fundo para a maioria dos distúrbios menstruais e, respectivamente, para vários outros sintomas no âmbito sexual.”

 

Atualmente mais liberal, a sociedade ainda oferece a mulher a “vantagem” de não ter de lidar com a menstruação, no que supostamente ela teria de restritiva e desconfortável. O uso de absorventes – inclusive os de uso interno – e a adoção de medicamentos que coíbem a menstruação são exemplos desses artifícios que teriam o poder de liberar a mulher de seu incômodo (“Incomodada ficava a sua avó” – quem não se lembra desse slogan?).

 

De fato, sangrar é sacrificar um pouco do ego, é renunciar e dar conta de “um pequeno nascimento”, que tem reflexos emocionais e físicos. Mas não se entregar às “regras” tão pouco é confortável e pode levar ao adoecimento. “A cura só pode ocorrer através do estabelecimento das pazes com o próprio papel sexual, pois ele é o pressuposto a partir do qual a mulher pode concretizar em si mesma também o polo sexual contrário”, diz “A Doença como Caminho”.

 

E em um ano regido por Marte (ano da Cabra) – com tendências a movimentos sociais violentos – reconciliar-se com o feminino nunca foi tão urgente. O poder feminino tem a ver  com acolhimento, com doação e sensibilidade. A cura da mulher é, em última instância, a cura do mundo. E essa cura passa também pela conscientização e valorização de seu ciclo menstrual.

Foto por Joana Petribu

 

Texto escrito pela jornalista Vanessa Barone após entrevista com Carla Brasil.

 

Carla Brasil é Bacharel em Relações Internacionais; Instrutora de ATS® e Dança Tribal, dançarina profissional, coreógrafa, pesquisadora do Estilo Tribal de Dança e cultura ancestral dos povos; Empresária da Loja de roupas, acessórios e peças exclusivas Hippie & Chic; Idealizadora e Empreendedora da Imadamah; Terapeuta Moon Mother de Benção e Cura do Útero; Doula na Tradição

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